Santo Antônio

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O Hospital de Olhos Calheira (HOC) celebra os Festejos de Santo Antônio, padroeiro da cidade de Jequié.

 

Por que Jequié?

Um amigo, da área de saúde, me fez o seguinte comentário, no dia da inauguração do Hospital de Olhos Calheira (HOC), em Jequié, em plena festa pela inauguração do empreendimento:

– Por que você fez este hospital em Jequié, rapaz? Com esta estrutura você poderia tê-lo em Salvador ou em qualquer outra grande cidade…

Anos depois este comentário me vem à mente e agora, no momento que Jequié comemora 114 anos, acho ser um bom momento para responder à esta pergunta:

A primeira escolha por Jequié foi obra do destino, quando meus pais para aqui me trouxeram, aos 6 anos, juntamente com toda a família, de mudança de Gandu, minha cidade natal. Lembro, com saudade, da conversa de minha mãe, que reunindo os 4 filhos, antes da partida, advertia: “Vamos morar em uma cidade grande, com escolas melhores, e vocês só devem brincar no quintal da casa…”. Depois cresci e vi que a “cidade grande” não era tão grande assim, mas foi a ideal para que estudasse em boas escolas como Grupo Escolar Ademar Vieira (GEAV), Instituto de Educação Régis Pacheco (IERP) e Centro Educacional Ministro Spínola (CEMS), que me forneceram as bases sólidas para que galgasse o Colégio Antônio Vieira, em Salvador e depois a Universidade Federal da Bahia, onde me graduei em Medicina. Depois da residência em Oftalmologia em Salvador com estágio em São Paulo, através do Rotary Club de Jequié, consegui uma Bolsa de Estudos para pós-graduação no Bascom Palmer Eye Institute, na Universidade de Miami, até hoje, o melhor hospital oftalmológico dos Estados Unidos. Encantava-me a facilidade com que os médicos tinham de realizar cirurgia em um andar, laser no outro, atender várias sub-especialidades, e tudo o mais…

Depois de rodar meio mundo, e me encantar com o hospital de olhos no qual estudei na América, tive um sonho: trabalhar em um Hospital de Olhos, mais ou menos nos moldes do visto nos EEUU. Primeiro abri um consultório em Salvador. Mas a cidade não me encantava, não preenchia minha alma. Foi quando segui os ditames do coração e as lembranças dos melhores anos de minha vida – infância e adolescência-, vividos em Jequié, e para a Cidade Sol parti, cheio de energia positiva. Do consultório veio pequena clínica, que foi crescendo, até se transformar no que conhecemos hoje como Hospital de Olhos Calheira. Hoje fico feliz e realizado quando fazemos cirurgia em um pavimento, laser em outro, com exames especiais e vários consultórios não só na matriz,mas também na filial. Mas para que este sonho se tornasse realidade, tive, antes de tudo, as bênçãos de Deus e grande apoio e incentivo da minha família. Veio minha esposa – também oftalmologista-, com ânimo adicional, outros colegas de sub-especialidades da área, até chegar no hospital que hoje conhecemos. E que nos dá muito orgulho, principalmente porque, com ele, ajudamos e continuamos a ajudar muitas pessoas, com e sem posses, nestes 21 anos passados desde sua fundação. São mais de 2 mil consultas/mês, 600 cirurgias de catarata/ano, muitos transplantes de córnea, cirurgias de glaucoma, estrabismo, plástica palpebral, doenças da retina, laser, dentre muitos outros serviços dentro da oftalmologia.

jequie-01E por que Jequié? Porque aqui tive, se não a última, mas a primeira namorada. Amigos sinceros. Matinée aos domingos nos Cines Jequié e Auditorium, quando chegava bem antes da sessão vespertina, com os braços repletos de revistas, para serem trocadas e lidas durante a semana. Desfile de 7 de setembro e 25 de outubro, dia da cidade, quando dava “cabriolas” em plena avenida e o som da Banda do IERP ainda ecoa nos meus ouvidos como canção de sonhar. Calça “boca de sino”, ir para a escola de bicicleta pela “Lomanto Júnior”, jogar bola na Manga do Costa e no areão do Rio de Contas, onde tomávamos banho, atravessando-o a nado nas épocas de cheias. Piscina do Jequié Tênis Clube, que nem quadra de tênis tinha, mas lá, aos 14 anos, passei minha primeira noite “fora de casa”, quando ao som da Banda Embalo 4, vi nascer os primeiros raios de sol.

Depois de 21 anos, percebi que fiz a escolha certa. Meus filhos cresceram também sob o sol de Jequié, e fico feliz em vê-los, assim como minha esposa, que é soteropolitana, também amando esta cidade tanto quanto eu amo.

Estas divagações foram feitas no intuito de responder a pergunta do meu amigo de “por que Jequié”. Naquela oportunidade não tive o tempo suficiente para lhe explicar todas estas razões. Naquele momento apenas lhe disse que escolhi Jequié porque era a cidade que mais amava. E hoje complemento: porque aqui respiro meu próprio ar e porque esta foi a cidade que me ensinou a perceber que mais importante que a chegada, é o prazer da caminhada.

PS: Texto escrito, a pedido, para ser publicado na revista “Jornal de Salvador”, outubro de 2011, especial em homenagem aos 114 anos de Jequié.

 

Ivonildo Calheira é Oftalmologista e Escritor. Membro Titular do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Academia de Letras de Jequié